Este blog está relacionado aos diversos projetos centrados na diversidade e pluralidade étnico-racial que desenvolvemos, sempre de forma coletiva e colaborativa, nas instituições educacionais e educativas onde atuamos como EDUCADOR, seja como professor, coordenador de núcleo educacional, assistente de diretor de escola ou diretor de escola.

Pois, consideramos de extrema importância, desde o início e durante todo o processo educacional, a proposição acerca da questão da IDENTIDADE, pois penso que o país e a sociedade, como um todo, só tem a ganhar com pessoas conscientes e bem resolvidas nesse contexto.

Acredito que esta FERRAMENTA, com os seus conteúdos e informações (textos, imagens, atividades entre outros), nos possibilitará acessar informações relativas ao que há de africano no Brasil, assim como referente ao continente africano, tão vasto e múltiplo, que pouco conhecemos aqui no Brasil.

Nos possibilitará também, valorizarmos a diversidade étnico-cultural, étnico-racial, a partir do debate, reflexão e estímulo a valores e comportamentos éticos como o amor, a amizade, o respeito, a solidariedade e a justiça, de forma que a todo o momento possamos nos posicionar contra qualquer forma de intolerância, e especificamente nos colocando contra todo o tipo de discriminação racial e a favor de práticas antirracistas.

12 abril 2010

O "LABORATÓRIO RACIAL" BRASILEIRO


Foi só no século 19 que os teóricos do darwinismo racial fizeram dos atributos externos e fenotípicos elementos essenciais, definidores de moralidades e do devir dos povos.Vinculados e legitimados pela biologia, a grande ciência desse século, os modelos darwinistas sociais constituíram-se em instrumentos eficazes para julgar povos e culturas, a partir de critérios deterministas, e, mais uma vez, o Brasil surgia representado como um grande exemplo; dessa feita, um "laboratório racial".
Apenas dessa maneira se explica, por exemplo, que já em 1844 o recém-criado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro tenha realizado seu primeiro concurso, apresentando como mote o seguinte desafio: "Como Escrever a História do Brasil". Mais interessante do que a proposta em si (indicativa de como naquele momento se "inventava uma história local", que deveria ser diferente daquela da metrópole portuguesa) foi o resultado. O vencedor foi o naturalista estrangeiro Von Martius, defensor da tese de que a trajetória brasileira seria construída através da mistura de suas três raças: "Devia ser um ponto capital para o historiador reflexivo mostrar como no desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o aperfeiçoamento das três raças humanas que nesse país são colocadas uma ao lado da outra, de uma maneira desconhecida na história antiga e que devem servir mutuamente de meio e fim".
Utilizando-se da metáfora de um poderoso rio purificador, correspondente à herança portuguesa, que deveria "absorver os pequenos confluentes das raças Índia e Ethiopica", o Brasil surgia representado pela particularidade de sua miscigenação. O país seria, portanto, o resultado futuro e promissor da convergência de três afluentes diferentes, que faziam as vezes das raças - a branca, a negra e a vermelha -, e sua singularidade ficava vinculada à conformação específica de sua população.
Não foi acidental, aliás, o fato de a monarquia brasileira, recém-instalada, ter investido numa simbologia tropical, que misturava elementos das tradicionais monarquias européias com indígenas, poucos negros e muitas frutas coloridas. Tornava-se nesse momento complicado destacar a presença africana, uma vez que ela lembrava a escravidão; mas nem por isso a realeza abriu mão de pintar um país que se caracterizava por sua coloração racial distinta.
Não obstante, se logo após a independência política de 1822 as elites intelectuais locais, adeptas da voga do romantismo, selecionaram no indígena (mitificado e afastado da própria realidade) um modelo de nacionalidade, já em finais do século 19 os negros e mestiços, até então ausentes da representação oficial, acabaram sendo apontados como índices definidores da degeneração, ou como os responsáveis pela falta de futuro deste país. Autores como Nina Rodrigues, da Escola de Medicina da Bahia; Sílvio Romero, da Escola de Recife; e João Batista Lacerda, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, entre tantos outros, destacaram "as mazelas da miscigenação racial" e, informados por teorias estrangeiras, condenaram a "realidade mestiça local".
A interpretação realista da geração dos anos 1870 se contrapôs, dessa maneira, à feição positiva cuidadosamente imaginada pela elite imperial. Surgindo na contramão do projeto romântico, os autores de final do século inverterão os termos da equação ao destacar os "perigos da miscigenação" e a impossibilidade da cidadania. Já em maio de 1888, um artigo polêmico, assinado por Nina Rodrigues, aparecia em alguns jornais brasileiros. Nele, o médico ajuizava: "os homens não nascem iguais. Supõe-se uma igualdade jurídica entre as raças, sem a qual não existiria o Direito". Desdenhando do discurso da lei, logo após a abolição formal da escravidão, esse "homem de sciencia" passava a desconhecer a igualdade e o próprio livre-arbítrio, em nome de um determinismo científico e racial.
A adoção desses modelos não era, como se pode imaginar, tão imediata, mesmo porque implicava concordar que uma nação de raças mistas, como a nossa, era viável e estava fadada ao fracasso. No entanto, se internamente a interpretação gerava posições paradoxais, parecia não existir dúvidas com relação à visão que vem de fora: o Brasil havia muito tempo era entendido como um "laboratório racial", um lugar onde a mistura de raças era mais interessante de observar do que a própria natureza.
Agassiz, por exemplo, viajante suíço que esteve no Brasil em 1865, fechava seu relato da seguinte maneira: "que qualquer um que duvide dos males da mistura de raças, e inclua por mal-entendida filantropia a botar abaixo todas as barreiras que a separam, venha ao Brasil. Não poderá negar a deterioração decorrente da amálgama das raças, mais geral aqui do que em qualquer outro país do mundo, e que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio, deixando um tipo indefinido, híbrido, deficiente em energia e mental". Gobineau, que permaneceu na corte do Rio de Janeiro durante quinze meses, como enviado francês, queixava-se: "Trata-se de uma população totalmente mulata, viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia".
Não se trata aqui de acumular exemplos, mas apenas de demonstrar como, nesse contexto, a mestiçagem existente no Brasil era não só descrita mas também adjetivada por esses pesquisadores estrangeiros, constituindo uma pista para explicar o atraso, ou possível inviabilidade, da nação. Mas mais interessante do que ficar repassando o discurso produzido alhures é enfrentar o debate local. Aqui no país, ao lado de um discurso de cunho liberal, tomava força, em finais do século 19, um modelo racial de análise, respaldado por uma percepção bastante consensual de que este era, de fato, um país miscigenado.
iDcionário Aulete

A principal função da educação é seu caráter libertador.

Educar não é repassar informações, mas criar um patrimônio pessoal.